Acordo todo dia às 05h da manhã, não porque sou uma monja iluminada, mas porque o mundo decidiu que produtividade começa antes do sol nascer. Medito por meia hora, tentando não pensar em boletos, problemas familiares, falta de dinheiro e o futuro do planeta. Falho miseravelmente, claro.
A outra meia hora é dedicada ao planejamento do meu dia. Uma folha cheia de metas nobres e listas coloridas que, sinceramente, já sei que não vão se cumprir. Mas sigo fingindo que controlo minha vida — é o que temos.
Às 06h levanto, passo meu skincare como se minha cara de sono tivesse salvação e às 06h30 o café tá pronto. Tomo banho como uma heroína cansada e tomo meu café vendo desenho animado, porque a realidade já é animada demais pro meu gosto.
Depois, levo minha cria no ponto de ônibus com cara de mãe plena, mas por dentro já pensando em desistir de tudo. Às 08h desço pra academia — meu palco, meu templo, meu momento com as marombeiras que agora são minhas best. Falo, treino, rio, reclamo, treino de novo. Uma hora e meia fingindo que tô só pela hipertrofia, mas na real tô ali pra socializar e fugir da rotina.
Volto pra casa às 10h, com uma fome que não respeita dieta. Como o que tiver — se der tempo, mastigo. Verifico as mensagens mais importantes, finjo que sou uma influencer ocupada, escrevo pro blog com uma sinceridade que beira o crime… e depois? Se tem algum trampo, faço. Se não tem? Desenho de novo.
Às 11h encaro a farsa chamada “almoço saudável” e às 12h pego a gata no ponto. Almoçamos como se a vida fosse leve, e depois me dou o luxo de ver o novo vídeo do canal do Mano Joselino, que fala mais verdades que muito coach por aí. A tarde começa com gratidão, banho nos dogs, hortaliças vivas e a casa que eu só arrumo depois do almoço porque minha manhã já é uma novela mexicana.
Das 14h às 16h estudo com tédio,e presto serviço a um velho insuportável, mas é a renda que me cabe atualmente, então abri um sorriso e só continuo, porque a motivação foi comprar pão e nunca mais voltou. Depois disso, estudo mais um pouco com a filha, brinco, perco no jogo da dama, rio pra não chorar.
Às 17h já tô preparando o jantar, me enfiando no banho, e me jogando no sofá pra ver meus programas favoritos: Largados e Pelados, Geordie Shore, e CatFit — porque nada como ver gente surtando na TV pra lembrar que minha vida até que tá sob controle.
Janto. E vou dormir cedo. Porque a deusa aqui acorda cedo também.
E assim se repete, há 5 meses, a rotina da quase deusa cansada, disciplinada, mas entediada.
Se não mudar logo, eu mudo. De planeta.






