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segunda-feira, 16 de junho de 2025

A Fragilidade Masculina



 A masculinidade nunca foi sinônimo de força. Foi sinônimo de repressão. Enquanto meninas eram incentivadas a falar sobre o que sentem, meninos eram ensinados a aguentar, a calar, a suportar sem fraquejar. O resultado disso não é força — é fragilidade disfarçada de rigidez.

O homem que explode quando é rejeitado, que odeia mulheres independentes, que compete com outros homens em silêncio, que não sabe pedir desculpas, que se ofende quando é corrigido, que foge do choro como se fosse doença — esse homem não é forte. Ele é frágil. Só que a sociedade o ensinou a maquiar essa fragilidade com violência, controle, ironia ou indiferença.

Ser homem, do jeito que o mundo patriarcal exige, custa caro. Cobra o silêncio emocional, a rigidez no afeto, o desprezo por tudo que soa “feminino”. A masculinidade tradicional limita a humanidade dos homens. Mas ninguém quer admitir. Então, eles seguem: agressivos quando feridos, frios quando amam, competitivos quando têm medo. Confundem medo com raiva, carinho com fraqueza, vulnerabilidade com humilhação.

Homens frágeis estão por toda parte, mas o orgulho não os deixa pedir ajuda. E quando alguém os aponta, reagem com mais raiva — não porque são maus, mas porque nunca aprenderam outra forma de existir. Foram criados para performar superioridade. Não para lidar com falhas. Foram ensinados a dominar, não a dialogar. A possuir, não a partilhar. A vencer, não a sentir.

Enquanto isso, o mundo muda. As mulheres não querem mais um pai para obedecer, um juiz para agradar ou um cafajeste para suportar. Querem homens humanos. Com falhas, sim. Mas que saibam nomear seus sentimentos, admitir seus erros, respeitar limites, ouvir sem se defender de tudo.

A verdadeira força está justamente aí: em reconhecer a própria fragilidade sem medo, em desmanchar o personagem que aprisiona. Porque só é forte quem já aceitou suas fraquezas. Quem não precisa esconder que também sofre, que também teme, que também precisa de cuidado.

O homem que ignora isso vai passar a vida inteira tentando provar que é forte demais. E no fundo, continuará sendo um menino assustado dentro de um corpo que não sabe amar.


quarta-feira, 11 de junho de 2025

Entre a urgência e a esperança SUS




 O colapso do SUS não é uma exceção, é o cenário constante em muitas regiões do Brasil — e no Nordeste, isso se intensifica. Quem depende do sistema por aqui já entendeu que esperar é rotina. Consultas marcadas pra meses depois, exames que viram promessa e cirurgias que parecem nunca chegar. Enquanto isso, a dor continua, a ansiedade corrói e o corpo segue ignorado pelo Estado.


Mesmo com tudo isso, ainda é o SUS que acolhe quando ninguém mais acolhe. Ainda é o posto de saúde que abre as portas pra quem não tem convênio. Ainda é o hospital público que salva vidas quando a única alternativa seria morrer esperando.


A gente só lembra do SUS quando precisa. Quando o corpo falha, quando a dor aperta, quando a vida exige urgência. Mas por trás da espera nas filas, dos corredores lotados e dos atendimentos que às vezes frustram, existe um sistema que ainda é um dos maiores feitos do Brasil.


Criado para ser universal, gratuito e igualitário, o SUS carrega um sonho coletivo: o de que saúde é direito, não privilégio. Quem já precisou de uma ambulância, de uma vacina, de um atendimento médico sem ter um real no bolso, sabe o que isso significa. O SUS está em todos os lugares: no posto da esquina, no hospital universitário, na campanha de vacinação em massa, no remédio que chega de graça na farmácia.


Mas não dá pra romantizar. Quem vive a rotina do SUS – pacientes e profissionais – também vive o colapso. Falta estrutura, falta respeito, falta gestão. Médicos exaustos, profissionais mal pagos, sistemas travados, desorganização que adoece mais do que cura. E o povo, como sempre, é quem paga a conta da negligência pública.


Ainda assim, resistimos. Porque o SUS é resistência. É o que sobra quando tudo falta. É onde o Brasil mostra que sabe cuidar, mesmo com pouco. Só que o pouco não pode ser normalizado. A gente merece mais do que o mínimo. O SUS merece mais do que sobrevive.



Pontos positivos do SUS


  • Universalidade: qualquer pessoa pode ser atendida, sem distinção.
  • Gratuidade: consultas, exames, cirurgias, vacinação, tudo sem custo direto.
  • Abrangência: está presente em todos os municípios do Brasil.
  • Reconhecimento internacional: é referência em campanhas de vacinação e transplantes.
  • Farmácia Popular: acesso gratuito ou com desconto a medicamentos essenciais.



Pontos negativos do SUS


  • Falta de investimento: recursos escassos comprometem o funcionamento.
  • Infraestrutura precária: hospitais e postos muitas vezes sucateados.
  • Longas filas de espera: especialmente para consultas com especialistas e exames.
  • Desigualdade regional: o Nordeste sofre mais com escassez de médicos e estrutura.
  • Desvalorização dos profissionais: salários baixos e sobrecarga.


domingo, 8 de junho de 2025

BONINAL, BAHIA — conheça

Imagem ilustrativa 


 Boninal é uma cidade pequena, localizada na Chapada Diamantina, interior da Bahia. Tem cerca de 12 mil habitantes e uma vida que corre num ritmo lento — às vezes, lento até demais. A economia gira em torno da agricultura familiar, da pecuária e dos empregos públicos. O comércio é modesto, o turismo é pouco explorado, e o que move a cidade, de verdade, são as tradições culturais, os festejos religiosos e a política que insiste em se alimentar da ignorância coletiva.


É um lugar onde quase todo mundo se conhece. Onde os sobrenomes se repetem, as histórias se cruzam e as oportunidades se concentram. Onde a sensação de pertencimento existe, mas a de crescimento… não. Porque Boninal está estagnada.


Sete meses. Esse foi o tempo necessário para que eu enxergasse o que muita gente daqui finge que não vê. Boninal é um exemplo vivo de como o tempo pode passar e quase nada mudar. É uma cidade parada. Estancada num ciclo vicioso onde a política não serve à população — serve a ela mesma.


Vamos falar do posto de saúde? Um dos mais utilizados pela comunidade está a mais de 10 km de distância. Um absurdo para quem precisa de atendimento básico, não tem carro e nem estrutura pública pra chegar até lá. Isso é exclusão. Isso é desprezo pela vida.


As ruas? Tem rua com calçamento iniciado e abandonado, como se a obra fosse só uma encenação. Começam, fazem barulho nas redes sociais, somem. Nenhuma explicação. Só buraco, lama e poeira. A obra do hospital então… é um capítulo à parte. Começaram há anos, prometeram mil vezes, e até hoje não concluíram. Enquanto isso, quem precisa se vira como pode. Porque depender do sistema aqui é o mesmo que depender da sorte.


Quer trabalhar? Boa sorte se não for parente ou amigo dos mesmos de sempre. Os empregos giram entre panelinhas. Já os ônibus escolares, que deveriam oferecer segurança, são velhos, caindo aos pedaços, com monitores despreparados e um trajeto absurdo que deixa crianças a mais de 2 km de casa. Isso é transporte público ou abandono disfarçado?


E a Coelba? Essa é campeã de desrespeito. Tem pedido de extensão de rede elétrica esperando há mais de um ano. Um ano inteiro sem resposta. Como se gente pobre não tivesse direito a energia.


Mas aí vem o São João e a prefeitura gasta alto com cantor famoso, som, palco, camarote. Pro show tem verba. Pro essencial, só desculpa. É a cultura do barulho e da maquiagem pública.


A tal “Academia dos Idosos”? Passei por ela. Estrutura vazia. Nenhuma atividade acontecendo. Mas os bajuladores estavam lá, sorrindo como se tivessem entregue uma revolução. É enfeite pra parecer ação. E só.


Fizeram uma ciclofaixa no meio do mato, mal iluminada, mal pensada. Enquanto isso, a comunidade de Guaribas — onde realmente se caminha e se pedala — segue esquecida. Teria sido muito mais útil e barato levar a ciclofaixa pra lá. Mas pra que pensar no que serve, se dá pra fazer o que aparece bem na foto?


A cidade não cresce. Boninal não anda. Os projetos públicos não atendem quem mais precisa. Criaram um programa pra distribuir frutas e verduras — boa ideia. Mas péssima execução. Subestimaram a demanda. A organização foi desastrosa. E os mais vulneráveis — mães solo, idosos, pessoas com fome real — ficaram por último.


Em Guaribas, o problema da água é uma novela. Casas da parte baixa ficam dois, três dias sem uma gota, enquanto outras têm abastecimento normal. Isso não é só desigualdade. É má gestão escancarada.


A coleta de lixo não atende com frequência as casas mais afastadas. É obrigação da prefeitura. Mas parece que a obrigação aqui só vale pro eleitor, nunca pra quem foi eleito.


O que dizer dos cães de rua? Proliferação absurda. Nenhum projeto de castração, nenhuma clínica, nenhuma campanha. Já vi quatro cadelas darem cria nos últimos meses. Filhotes largados, doenças se espalhando, e todo mundo age como se fosse normal.


E as donas de casa? Estão invisíveis. Sem incentivo, sem projeto, sem alternativa de renda. Dependem do Bolsa Família porque ninguém se preocupa em dar outra opção. A juventude? Abandonada. Nenhuma campanha decente sobre gravidez na adolescência. Ouvi falar de um caso gravíssimo: um homem preso por engravidar uma criança de 10 ou 11 anos. E o que me revolta não é só o caso — é o silêncio em volta dele. Aqui, sexo ainda é tabu. Muitas mães, mesmo sendo modernas, não sabem como conversar com as filhas. E a escola? Se cala. O resultado é uma geração de crianças grávidas de outras crianças, dependendo de ajuda do governo, vivendo sem referência.


Imagina se essa cidade não tivesse prefeito? É só uma ideia de como isso aqui pode ter sido antes.

Se as decisões fossem tomadas por todos, em comum acordo?

Se os gastos fossem publicados?

Se os projetos fossem concluídos?

Se as obras fossem rápidas e eficientes?

Se o atendimento fosse justo, educado e organizado?


Qual seria a qualidade de vida dos idosos dessa cidade?

Qual é a renda média das mulheres?

Quantos estão desempregados?

O que tem sido feito a respeito?


Nada.

Boninal parece estar confortável na própria estagnação.

E enquanto a cidade dorme, quem tem consciência fica insone.


sexta-feira, 30 de maio de 2025

A Rua Como Escolha: Quando a Calçada Vira Casa

 



Muitas vezes, ao falar de moradores de rua, nos limitamos ao olhar da piedade ou do julgamento. Supomos que toda pessoa sem teto quer, ou deveria querer, sair dessa condição. Mas e se, para alguns, essa vida já não for mais uma fase — e sim um estilo de vida?

É difícil aceitar que alguém possa ter escolhido a rua, ainda que essa escolha tenha vindo de um acúmulo de dores, decepções e portas fechadas. Mas a verdade é que o ser humano se adapta ao que vive, e com o tempo, começa a chamar de lar o que antes era só passagem. A marquise vira teto, o cobertor doado vira aconchego, a rotina da praça substitui o relógio de ponto. Há quem viva assim há anos — não mais esperando uma salvação, mas defendendo o pouco que conquistou no asfalto.

Isso não significa romantizar o abandono. É entender que a realidade das ruas não se resume à fome ou ao frio. Existe um universo próprio, com regras, laços, convivência e até certo senso de pertencimento. Muitos rejeitam abrigo não por orgulho, mas porque já tentaram se encaixar no que a sociedade oferece e foram descartados. Outros nem tentam mais. Criaram suas próprias rotinas, decidiram não depender de normas, não obedecer a um teto que cobra silêncio, hora pra dormir ou documentos em dia.

E assim como quem escolhe o campo, a praia ou a cidade grande, tem também quem fique na rua por se sentir mais livre, mais dono de si. Porque a rua, apesar de dura, oferece uma forma crua de liberdade. Pode parecer contraditório, mas tem gente que encontrou mais dignidade dormindo no chão do que mendigando respeito entre quatro paredes.

É claro que existem milhares em situação de rua que desejam sair dela, e precisam de políticas públicas urgentes para isso. Mas há também aqueles que não querem mudar — ou não veem por que deveriam. A vida os moldou de um jeito que o mundo “normal” já não serve mais. E quem somos nós para dizer que a vida deles está errada?

A gente se adapta ao que escolhe, e com o tempo, passa a defender essa escolha como um território conquistado. Talvez os moradores de rua estejam nos mostrando isso sem dizer uma palavra: que viver também é aprender a se abrigar do jeito que dá, mesmo que seja embaixo de uma ponte. Porque nem sempre a casa é onde mora o conforto — às vezes, é só onde mora a coragem de continuar.


quinta-feira, 29 de maio de 2025

“Saúde Que Lute, o Que Importa É o Piseiro”

Ah, nossa amada cidade! Meses atrás, comemoramos o aniversário da cidade com dois dias de pura farra, cada um recheado com mais de cinco cantores — porque, claro, a prioridade é fazer o povo dançar, não andar em rua calçada. E agora, pra não perder o embalo, temos três dias inteiros de festa junina, com fogueira, forró e aquele cheiro de milho cozido misturado com promessas não cumpridas.

Enquanto isso, nas ruas das comunidades vizinhas, o calçamento tá igual promessa de político: começa, para, some, reaparece só quando dá ibope. A única coisa que avança é o mato. E o posto de saúde? Ah, uma comédia! Um médico só (isso quando aparece), e um time de enfermeiras que atuam como fiscais do padrão local: olham pra sua cara, perguntam de onde você é e decidem ali, no olho, se você merece ser atendida. Se não falar no sotaque certo ou usar o short jeans sagrado com a blusinha de malha justa, já era. Dizem que seu nome não tá na ficha sem nem olhar. Haha típico .

Isso aconteceu comigo, 2022. Fui tomar a vacina da COVID, inocente, achando que era cidadã como qualquer outra. Esqueci que aqui atendimento é por afinidade, não por necessidade.

Ah, e se por um milagre você for atendida e o médico te pedir exames... já prepara o coração. A média de espera é de 10 a 11 meses. Isso mesmo: quase um ano pra saber se tem algo errado com sua saúde. Até lá, vai que o problema se resolve sozinho — ou você morre antes, o que economiza pro SUS.

Desde então, Seabra virou minha capital oficial. Faço tudo por lá. Porque, me perdoem os patriotas da terrinha, mas esse lugar não vai pra frente enquanto as vagas de emprego forem preenchidas por “primas da prima da cunhada” que mal sabem ler, quanto mais falar com alguém sem grosseria. Só ocupam espaço e barram quem realmente entende do que tá fazendo.

Depois de quase cinco meses por aqui, entendi direitinho o estigma: "baiano é preguiçoso". Não somos todos, claro. Mas a cultura do “deixa assim mesmo”, do “resolve depois”, do “mas vai ter festa, viu?”... essa aí pega. A gente adora tudo mastigado, e qualquer espantalho que sorria já nos engana.
Falta calçamento? O hospital tá em obras há mais de dois anos? Bota trio elétrico, chama umas bandas, enche a praça de som, e pronto: anestesia coletiva. O povo bebe, dança e acha que tá tudo certo.
Então é isso. Viva as festas juninas! Viva os dois dias de aniversário da cidade! Viva a ilusão bem embalada, com bandeirinha colorida e licor debaixo do braço. Porque aqui, se a realidade incomoda, a gente toca um forrozinho e faz de conta que tá tudo bem.

Entre o corpo e a alma— Resquícios

Sentir, logo cedo, o pulsar do meu coração mais acelerado que antes. Ao abrir os olhos, percebo mais um lindo amanhecer. Estou imóvel por um...