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domingo, 22 de junho de 2025

Entre fogueiras e farsas: eu, o São João e o churrasco da contradição


 Tô ansiosa pelo São João, sim. Mas também queria ficar em casa, sozinha, quieta, vendo as festas acontecerem pela janela como quem assiste a própria vida por um espelho embaçado. É sempre assim: quero a bagunça, mas não suporto o excesso de gente. Quero dançar forró até os pés doerem, mas me dá preguiça até de escolher a roupa.


Ontem fui num churrasco. Cheio de gente que eu não conhecia — ou fingia conhecer. Gente de todas as idades, todas as vontades, todos os porres. Uns com garrafa na mão, outros com a língua solta demais. E eu ali: julgando cada um mentalmente enquanto fazia exatamente o mesmo. É sobre isso. Hipocrisia social com glitter e gelo no copo.


A verdade é que a gente vive entre o desejo e o desgosto. Quer se conectar, mas tem preguiça do contato. Quer rir alto, mas se sente deslocada. Quer ser a diferentona, mas acaba sendo só mais uma no meio da fumaça, do álcool e dos assuntos que ninguém vai lembrar amanhã.


E mesmo assim, vou de novo. Porque o São João chega com cheiro de lenha, de lembrança, de promessas novas disfarçadas de tradição. E mesmo dividida entre a vontade de ir e a vontade de sumir, eu sei que vou aparecer. Com a cara boa, o coração meio torto, e talvez até uma cerveja na mão — julgando tudo de novo, inclusive a mim mesma.


sábado, 14 de junho de 2025

Rotina de uma quase deusa, cansada


 Acordo todo dia às 05h da manhã, não porque sou uma monja iluminada, mas porque o mundo decidiu que produtividade começa antes do sol nascer. Medito por meia hora, tentando não pensar em boletos, problemas familiares, falta de dinheiro e o futuro do planeta. Falho miseravelmente, claro.

A outra meia hora é dedicada ao planejamento do meu dia. Uma folha cheia de metas nobres e listas coloridas que, sinceramente, já sei que não vão se cumprir. Mas sigo fingindo que controlo minha vida — é o que temos.


Às 06h levanto, passo meu skincare como se minha cara de sono tivesse salvação e às 06h30 o café tá pronto. Tomo banho como uma heroína cansada e tomo meu café vendo desenho animado, porque a realidade já é animada demais pro meu gosto.


Depois, levo minha cria no ponto de ônibus com cara de mãe plena, mas por dentro já pensando em desistir de tudo. Às 08h desço pra academia — meu palco, meu templo, meu momento com as marombeiras que agora são minhas best. Falo, treino, rio, reclamo, treino de novo. Uma hora e meia fingindo que tô só pela hipertrofia, mas na real tô ali pra socializar e fugir da rotina.


Volto pra casa às 10h, com uma fome que não respeita dieta. Como o que tiver — se der tempo, mastigo. Verifico as mensagens mais importantes, finjo que sou uma influencer ocupada, escrevo pro blog com uma sinceridade que beira o crime… e depois? Se tem algum trampo, faço. Se não tem? Desenho de novo.


Às 11h encaro a farsa chamada “almoço saudável” e às 12h pego a gata no ponto. Almoçamos como se a vida fosse leve, e depois me dou o luxo de ver o novo vídeo do canal do Mano Joselino, que fala mais verdades que muito coach por aí. A tarde começa com gratidão, banho nos dogs, hortaliças vivas e a casa que eu só arrumo depois do almoço porque minha manhã já é uma novela mexicana.


Das 14h às 16h estudo com tédio,e presto serviço a um velho insuportável, mas é a renda que me cabe atualmente, então abri um sorriso e só continuo, porque a motivação foi comprar pão e nunca mais voltou. Depois disso, estudo mais um pouco com a filha, brinco, perco no jogo da dama, rio pra não chorar.


Às 17h já tô preparando o jantar, me enfiando no banho, e me jogando no sofá pra ver meus programas favoritos: Largados e Pelados, Geordie Shore, e CatFit — porque nada como ver gente surtando na TV pra lembrar que minha vida até que tá sob controle.


Janto. E vou dormir cedo. Porque a deusa aqui acorda cedo também.

E assim se repete, há 5 meses, a rotina da quase deusa cansada, disciplinada, mas entediada.

Se não mudar logo, eu mudo. De planeta.


quarta-feira, 11 de junho de 2025

Entre a urgência e a esperança SUS




 O colapso do SUS não é uma exceção, é o cenário constante em muitas regiões do Brasil — e no Nordeste, isso se intensifica. Quem depende do sistema por aqui já entendeu que esperar é rotina. Consultas marcadas pra meses depois, exames que viram promessa e cirurgias que parecem nunca chegar. Enquanto isso, a dor continua, a ansiedade corrói e o corpo segue ignorado pelo Estado.


Mesmo com tudo isso, ainda é o SUS que acolhe quando ninguém mais acolhe. Ainda é o posto de saúde que abre as portas pra quem não tem convênio. Ainda é o hospital público que salva vidas quando a única alternativa seria morrer esperando.


A gente só lembra do SUS quando precisa. Quando o corpo falha, quando a dor aperta, quando a vida exige urgência. Mas por trás da espera nas filas, dos corredores lotados e dos atendimentos que às vezes frustram, existe um sistema que ainda é um dos maiores feitos do Brasil.


Criado para ser universal, gratuito e igualitário, o SUS carrega um sonho coletivo: o de que saúde é direito, não privilégio. Quem já precisou de uma ambulância, de uma vacina, de um atendimento médico sem ter um real no bolso, sabe o que isso significa. O SUS está em todos os lugares: no posto da esquina, no hospital universitário, na campanha de vacinação em massa, no remédio que chega de graça na farmácia.


Mas não dá pra romantizar. Quem vive a rotina do SUS – pacientes e profissionais – também vive o colapso. Falta estrutura, falta respeito, falta gestão. Médicos exaustos, profissionais mal pagos, sistemas travados, desorganização que adoece mais do que cura. E o povo, como sempre, é quem paga a conta da negligência pública.


Ainda assim, resistimos. Porque o SUS é resistência. É o que sobra quando tudo falta. É onde o Brasil mostra que sabe cuidar, mesmo com pouco. Só que o pouco não pode ser normalizado. A gente merece mais do que o mínimo. O SUS merece mais do que sobrevive.



Pontos positivos do SUS


  • Universalidade: qualquer pessoa pode ser atendida, sem distinção.
  • Gratuidade: consultas, exames, cirurgias, vacinação, tudo sem custo direto.
  • Abrangência: está presente em todos os municípios do Brasil.
  • Reconhecimento internacional: é referência em campanhas de vacinação e transplantes.
  • Farmácia Popular: acesso gratuito ou com desconto a medicamentos essenciais.



Pontos negativos do SUS


  • Falta de investimento: recursos escassos comprometem o funcionamento.
  • Infraestrutura precária: hospitais e postos muitas vezes sucateados.
  • Longas filas de espera: especialmente para consultas com especialistas e exames.
  • Desigualdade regional: o Nordeste sofre mais com escassez de médicos e estrutura.
  • Desvalorização dos profissionais: salários baixos e sobrecarga.


domingo, 8 de junho de 2025

BONINAL, BAHIA — conheça

Imagem ilustrativa 


 Boninal é uma cidade pequena, localizada na Chapada Diamantina, interior da Bahia. Tem cerca de 12 mil habitantes e uma vida que corre num ritmo lento — às vezes, lento até demais. A economia gira em torno da agricultura familiar, da pecuária e dos empregos públicos. O comércio é modesto, o turismo é pouco explorado, e o que move a cidade, de verdade, são as tradições culturais, os festejos religiosos e a política que insiste em se alimentar da ignorância coletiva.


É um lugar onde quase todo mundo se conhece. Onde os sobrenomes se repetem, as histórias se cruzam e as oportunidades se concentram. Onde a sensação de pertencimento existe, mas a de crescimento… não. Porque Boninal está estagnada.


Sete meses. Esse foi o tempo necessário para que eu enxergasse o que muita gente daqui finge que não vê. Boninal é um exemplo vivo de como o tempo pode passar e quase nada mudar. É uma cidade parada. Estancada num ciclo vicioso onde a política não serve à população — serve a ela mesma.


Vamos falar do posto de saúde? Um dos mais utilizados pela comunidade está a mais de 10 km de distância. Um absurdo para quem precisa de atendimento básico, não tem carro e nem estrutura pública pra chegar até lá. Isso é exclusão. Isso é desprezo pela vida.


As ruas? Tem rua com calçamento iniciado e abandonado, como se a obra fosse só uma encenação. Começam, fazem barulho nas redes sociais, somem. Nenhuma explicação. Só buraco, lama e poeira. A obra do hospital então… é um capítulo à parte. Começaram há anos, prometeram mil vezes, e até hoje não concluíram. Enquanto isso, quem precisa se vira como pode. Porque depender do sistema aqui é o mesmo que depender da sorte.


Quer trabalhar? Boa sorte se não for parente ou amigo dos mesmos de sempre. Os empregos giram entre panelinhas. Já os ônibus escolares, que deveriam oferecer segurança, são velhos, caindo aos pedaços, com monitores despreparados e um trajeto absurdo que deixa crianças a mais de 2 km de casa. Isso é transporte público ou abandono disfarçado?


E a Coelba? Essa é campeã de desrespeito. Tem pedido de extensão de rede elétrica esperando há mais de um ano. Um ano inteiro sem resposta. Como se gente pobre não tivesse direito a energia.


Mas aí vem o São João e a prefeitura gasta alto com cantor famoso, som, palco, camarote. Pro show tem verba. Pro essencial, só desculpa. É a cultura do barulho e da maquiagem pública.


A tal “Academia dos Idosos”? Passei por ela. Estrutura vazia. Nenhuma atividade acontecendo. Mas os bajuladores estavam lá, sorrindo como se tivessem entregue uma revolução. É enfeite pra parecer ação. E só.


Fizeram uma ciclofaixa no meio do mato, mal iluminada, mal pensada. Enquanto isso, a comunidade de Guaribas — onde realmente se caminha e se pedala — segue esquecida. Teria sido muito mais útil e barato levar a ciclofaixa pra lá. Mas pra que pensar no que serve, se dá pra fazer o que aparece bem na foto?


A cidade não cresce. Boninal não anda. Os projetos públicos não atendem quem mais precisa. Criaram um programa pra distribuir frutas e verduras — boa ideia. Mas péssima execução. Subestimaram a demanda. A organização foi desastrosa. E os mais vulneráveis — mães solo, idosos, pessoas com fome real — ficaram por último.


Em Guaribas, o problema da água é uma novela. Casas da parte baixa ficam dois, três dias sem uma gota, enquanto outras têm abastecimento normal. Isso não é só desigualdade. É má gestão escancarada.


A coleta de lixo não atende com frequência as casas mais afastadas. É obrigação da prefeitura. Mas parece que a obrigação aqui só vale pro eleitor, nunca pra quem foi eleito.


O que dizer dos cães de rua? Proliferação absurda. Nenhum projeto de castração, nenhuma clínica, nenhuma campanha. Já vi quatro cadelas darem cria nos últimos meses. Filhotes largados, doenças se espalhando, e todo mundo age como se fosse normal.


E as donas de casa? Estão invisíveis. Sem incentivo, sem projeto, sem alternativa de renda. Dependem do Bolsa Família porque ninguém se preocupa em dar outra opção. A juventude? Abandonada. Nenhuma campanha decente sobre gravidez na adolescência. Ouvi falar de um caso gravíssimo: um homem preso por engravidar uma criança de 10 ou 11 anos. E o que me revolta não é só o caso — é o silêncio em volta dele. Aqui, sexo ainda é tabu. Muitas mães, mesmo sendo modernas, não sabem como conversar com as filhas. E a escola? Se cala. O resultado é uma geração de crianças grávidas de outras crianças, dependendo de ajuda do governo, vivendo sem referência.


Imagina se essa cidade não tivesse prefeito? É só uma ideia de como isso aqui pode ter sido antes.

Se as decisões fossem tomadas por todos, em comum acordo?

Se os gastos fossem publicados?

Se os projetos fossem concluídos?

Se as obras fossem rápidas e eficientes?

Se o atendimento fosse justo, educado e organizado?


Qual seria a qualidade de vida dos idosos dessa cidade?

Qual é a renda média das mulheres?

Quantos estão desempregados?

O que tem sido feito a respeito?


Nada.

Boninal parece estar confortável na própria estagnação.

E enquanto a cidade dorme, quem tem consciência fica insone.


quinta-feira, 29 de maio de 2025

“Saúde Que Lute, o Que Importa É o Piseiro”

Ah, nossa amada cidade! Meses atrás, comemoramos o aniversário da cidade com dois dias de pura farra, cada um recheado com mais de cinco cantores — porque, claro, a prioridade é fazer o povo dançar, não andar em rua calçada. E agora, pra não perder o embalo, temos três dias inteiros de festa junina, com fogueira, forró e aquele cheiro de milho cozido misturado com promessas não cumpridas.

Enquanto isso, nas ruas das comunidades vizinhas, o calçamento tá igual promessa de político: começa, para, some, reaparece só quando dá ibope. A única coisa que avança é o mato. E o posto de saúde? Ah, uma comédia! Um médico só (isso quando aparece), e um time de enfermeiras que atuam como fiscais do padrão local: olham pra sua cara, perguntam de onde você é e decidem ali, no olho, se você merece ser atendida. Se não falar no sotaque certo ou usar o short jeans sagrado com a blusinha de malha justa, já era. Dizem que seu nome não tá na ficha sem nem olhar. Haha típico .

Isso aconteceu comigo, 2022. Fui tomar a vacina da COVID, inocente, achando que era cidadã como qualquer outra. Esqueci que aqui atendimento é por afinidade, não por necessidade.

Ah, e se por um milagre você for atendida e o médico te pedir exames... já prepara o coração. A média de espera é de 10 a 11 meses. Isso mesmo: quase um ano pra saber se tem algo errado com sua saúde. Até lá, vai que o problema se resolve sozinho — ou você morre antes, o que economiza pro SUS.

Desde então, Seabra virou minha capital oficial. Faço tudo por lá. Porque, me perdoem os patriotas da terrinha, mas esse lugar não vai pra frente enquanto as vagas de emprego forem preenchidas por “primas da prima da cunhada” que mal sabem ler, quanto mais falar com alguém sem grosseria. Só ocupam espaço e barram quem realmente entende do que tá fazendo.

Depois de quase cinco meses por aqui, entendi direitinho o estigma: "baiano é preguiçoso". Não somos todos, claro. Mas a cultura do “deixa assim mesmo”, do “resolve depois”, do “mas vai ter festa, viu?”... essa aí pega. A gente adora tudo mastigado, e qualquer espantalho que sorria já nos engana.
Falta calçamento? O hospital tá em obras há mais de dois anos? Bota trio elétrico, chama umas bandas, enche a praça de som, e pronto: anestesia coletiva. O povo bebe, dança e acha que tá tudo certo.
Então é isso. Viva as festas juninas! Viva os dois dias de aniversário da cidade! Viva a ilusão bem embalada, com bandeirinha colorida e licor debaixo do braço. Porque aqui, se a realidade incomoda, a gente toca um forrozinho e faz de conta que tá tudo bem.

Manual de sobrevivência para almas inquietas em cidades pequenas.

Acordei entediada. De novo.
Não é sono, não é preguiça, não é falta de café — é tédio mesmo. Um tédio tão denso que podia ser cortado com uma faca cega dessas que só servem pra passar margarina. E o pior: acordei assim num lugar que tem CEP, mas não devia nem ter nome.
Chamar isso aqui de “cidade” é um exagero digno de novela mexicana. Aqui não tem vida, tem manutenção de existência. Acorda, respira, reclama do calor, olha pro celular, não tem nada, olha de novo, ainda nada. Sai na rua, vê sempre as mesmas três almas penadas que fingem ser gente feliz no Instagram. Ate a fofoca morreu, mas isso também não iria acrescentar em nada.
Parei de beber. Não por moral, mas por pura lógica: o álcool me dava a falsa sensação de que a vida era interessante. Só que agora nem isso. Me entorpecer pra acordar no mesmo quarto, com a mesma parede descascada e o mesmo feed cheio de casal clichê postando “meu porto seguro”? Ah não, obrigada. Tô sóbria e miseravelmente lúcida.
E olha que beleza: com a sobriedade vem o bônus — a consciência plena de que amanhã vai ser igual.
Ninguém fala disso. Todo mundo finge que está tudo bem. E se você ousa dizer que tá entediada, cansada, angustiada, sempre tem uma iluminada do grupo do WhatsApp que solta um “ah, mas agradece, podia ser pior”.
Sim, podia. Eu podia estar num lugar pior. Tipo… aqui.

Se eu for na padaria, encontro a mesma senhora que fala da vida de todo mundo. Se eu for na farmácia, o atendente me chama pelo nome e pergunta se “é a mesma de sempre” (como se fosse normal ter remédio fixo igual assinatura da Netflix). Se eu andar três quarteirões, já dei a volta no mundo. E aí volto pra casa com uma sensação horrível de que estou parada no tempo, só envelhecendo de corpo, enquanto a alma bate na parede querendo ir embora.
Eu queria movimento, queria caos, queria gente estranha, queria ver um desconhecido bonito na rua e nunca mais cruzar com ele. Queria ter onde me perder, porque aqui eu já me acho de olhos fechados. Sempre no mesmo lugar, sempre na mesma falta de coisa.
E eu sei, tem gente que gosta. Que ama essa “paz”, essa “tranquilidade”. Mas eu não fui feita pra isso.
Esse lugar me cansa. Me esvazia. Me drena.
E o pior? Nem barulho tem. Só o som do tédio berrando dentro de mim.

Entre o corpo e a alma— Resquícios

Sentir, logo cedo, o pulsar do meu coração mais acelerado que antes. Ao abrir os olhos, percebo mais um lindo amanhecer. Estou imóvel por um...