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sexta-feira, 18 de julho de 2025

⸻ “Mulata” não é elogio. É disfarce.

 


A ingenuidade — ou a ignorância que insiste em se manter confortável — é uma praga silenciosa.

Ela tá no meio da sociedade, passando de boca em boca, como se nada fosse. Como se palavras não tivessem peso. Como se a história não tivesse deixado cicatriz.


Você tá num ambiente qualquer, toda linda, com sua cor acesa, com sua presença forte.

E aí vem um cara — branco ou até mesmo preto — com aquela pose de gostosão, sorriso torto, ar convencido, e solta:

“E aí, mulata, gostosa…”

Ou pior, fala achando que tá elogiando.

Fala como quem te coloca num pedestal, mas com os olhos lá embaixo, entre suas pernas.


E lá vou eu, mulher preta, adulta, consciente, dar aula pra gente crescida.

Explicar que “mulata” não é charme, não é carinho, não é nada além de um insulto polido.

É o resquício da mentalidade escravocrata que ainda nos enxerga como produto — não como pessoa.


Porque o termo “mulata” vem de mula: animal híbrido, nascido da mistura de cavalo com jumenta.

A palavra carrega no som o veneno da desumanização.

Historicamente, foi usada pra nomear a mulher preta de pele mais clara, que “servia” no fundo das casas, mas também na cama dos senhores.

Era a mulher que não era branca o suficiente pra ter direitos, nem preta o bastante pra ser poupada do desejo animalizado do colonizador.


E até hoje isso escorre pelos cantos da cultura.

A “mulata do samba”, a “mulata do carnaval”, a “mulata do pecado” — tudo isso reforça a ideia de que a mulher preta só tem lugar se estiver disponível, dançando, sendo olhada.

Mas nunca como potência, nunca como sujeito. Só como corpo.


Não é inocente. Nunca foi.

Quem ainda chama uma mulher de “mulata” revela o quanto ignora a história, ou pior: sabe, mas não se importa.

Porque é mais fácil manter o termo, rir da situação, do que rever os próprios preconceitos.


A gente já aguenta demais. E não precisa aceitar mais isso.

Se o seu elogio vem de uma palavra que desumaniza, guarda ele pra você.


Aqui, o que queremos é respeito.

E pra mulher preta, o mínimo deveria ser o básico. Mas até isso a gente ainda precisa ensinar.


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