Acordei entediada. De novo.
Não é sono, não é preguiça, não é falta de café — é tédio mesmo. Um tédio tão denso que podia ser cortado com uma faca cega dessas que só servem pra passar margarina. E o pior: acordei assim num lugar que tem CEP, mas não devia nem ter nome.
Chamar isso aqui de “cidade” é um exagero digno de novela mexicana. Aqui não tem vida, tem manutenção de existência. Acorda, respira, reclama do calor, olha pro celular, não tem nada, olha de novo, ainda nada. Sai na rua, vê sempre as mesmas três almas penadas que fingem ser gente feliz no Instagram. Ate a fofoca morreu, mas isso também não iria acrescentar em nada.
Parei de beber. Não por moral, mas por pura lógica: o álcool me dava a falsa sensação de que a vida era interessante. Só que agora nem isso. Me entorpecer pra acordar no mesmo quarto, com a mesma parede descascada e o mesmo feed cheio de casal clichê postando “meu porto seguro”? Ah não, obrigada. Tô sóbria e miseravelmente lúcida.
E olha que beleza: com a sobriedade vem o bônus — a consciência plena de que amanhã vai ser igual.
Ninguém fala disso. Todo mundo finge que está tudo bem. E se você ousa dizer que tá entediada, cansada, angustiada, sempre tem uma iluminada do grupo do WhatsApp que solta um “ah, mas agradece, podia ser pior”.
Sim, podia. Eu podia estar num lugar pior. Tipo… aqui.
Se eu for na padaria, encontro a mesma senhora que fala da vida de todo mundo. Se eu for na farmácia, o atendente me chama pelo nome e pergunta se “é a mesma de sempre” (como se fosse normal ter remédio fixo igual assinatura da Netflix). Se eu andar três quarteirões, já dei a volta no mundo. E aí volto pra casa com uma sensação horrível de que estou parada no tempo, só envelhecendo de corpo, enquanto a alma bate na parede querendo ir embora.
Eu queria movimento, queria caos, queria gente estranha, queria ver um desconhecido bonito na rua e nunca mais cruzar com ele. Queria ter onde me perder, porque aqui eu já me acho de olhos fechados. Sempre no mesmo lugar, sempre na mesma falta de coisa.
E eu sei, tem gente que gosta. Que ama essa “paz”, essa “tranquilidade”. Mas eu não fui feita pra isso.
Esse lugar me cansa. Me esvazia. Me drena.
E o pior? Nem barulho tem. Só o som do tédio berrando dentro de mim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário