Tô ansiosa pelo São João, sim. Mas também queria ficar em casa, sozinha, quieta, vendo as festas acontecerem pela janela como quem assiste a própria vida por um espelho embaçado. É sempre assim: quero a bagunça, mas não suporto o excesso de gente. Quero dançar forró até os pés doerem, mas me dá preguiça até de escolher a roupa.
Ontem fui num churrasco. Cheio de gente que eu não conhecia — ou fingia conhecer. Gente de todas as idades, todas as vontades, todos os porres. Uns com garrafa na mão, outros com a língua solta demais. E eu ali: julgando cada um mentalmente enquanto fazia exatamente o mesmo. É sobre isso. Hipocrisia social com glitter e gelo no copo.
A verdade é que a gente vive entre o desejo e o desgosto. Quer se conectar, mas tem preguiça do contato. Quer rir alto, mas se sente deslocada. Quer ser a diferentona, mas acaba sendo só mais uma no meio da fumaça, do álcool e dos assuntos que ninguém vai lembrar amanhã.
E mesmo assim, vou de novo. Porque o São João chega com cheiro de lenha, de lembrança, de promessas novas disfarçadas de tradição. E mesmo dividida entre a vontade de ir e a vontade de sumir, eu sei que vou aparecer. Com a cara boa, o coração meio torto, e talvez até uma cerveja na mão — julgando tudo de novo, inclusive a mim mesma.

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