sexta-feira, 6 de junho de 2025

Somos escravos de sonhos que não sonhamos

Nem tudo que você deseja é seu — às vezes é só o sistema usando sua cabeça.



 Carro, celular, banco, bebida… tudo é apresentado como essencial. Mas no fundo, são desejos implantados. Propagandas fantasiadas de necessidade. O consumo se tornou religião e o estilo de vida, uma coleira. A maioria sonha com o que viu numa vitrine ou no feed. Nada disso é genuíno. É apenas combustível para um sistema que precisa de gente desejando coisas que não precisa — pra continuar girando, sugando tempo, energia e identidade.

E no fim do dia? A engrenagem revela seu lado mais raso: tudo gira em torno da validação. Do sexo. Da conquista. Da imagem. Homens fantasiam carros não pela função, mas pela ideia de que isso abre portas para o prazer. E não é mentira. Muitas mulheres ainda se colocam como prêmio de consumo, como se um banco de couro justificasse a entrega do próprio corpo. Não julgo, mas observo: isso diz muito mais sobre o vazio que tentam preencher do que sobre o objeto em si.

A desculpa biológica vem sempre pronta: dizem que mulheres “preferem homens com status” e que homens querem “o máximo de mulheres possível”. Mas essa explicação rasa ignora o peso cultural da desigualdade histórica entre gêneros. Essa não é a natureza humana, é o condicionamento. Desde cedo, homens são ensinados a medir valor por poder e acúmulo, e mulheres a vender afeto em troca de segurança. O desejo foi manipulado, doutrinado, dirigido. Quando você repete que isso é “natural”, só está normalizando uma estrutura que favorece os mesmos de sempre — e que nunca foi neutra, nem justa.


Chamam esse tipo de pensamento de ideologia , mas o fato mesmo é o mundo onde a única coisa que funciona é o acúmulo. Onde poucos têm muito e muitos não têm nada — e ainda são convencidos a agradecer por isso. O comunismo não falhou, ele foi sabotado. Assusta justamente porque propõe redistribuição num sistema que sobrevive do desequilíbrio. Não é utopia achar que todos merecem acesso ao básico, é delírio acreditar que só é possível viver bem às custas do sofrimento alheio.


Dizer que “na prática não funciona” é fechar os olhos para o fato de que o capitalismo também não funciona — a não ser que você esteja no topo da cadeia. Enquanto isso, há gente morrendo de fome ao lado de supermercados lotados. A verdade é que ideias saudáveis incomodam porque desmontam privilégios. E liberdade real exige confronto com as verdades que preferem esconder sob o tapete do conforto.

Não sonho com o que me mandaram sonhar. Isso não é comunismo, é lucidez. A liberdade começa quando você para de confundir ter com ser.

Em fim vou dormir. Que é de graça, e ainda me protege dos delírios do sistema.


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