Sobrevivi ao que me atravessou em silêncio — e sigo inteira, mesmo com as marcas que não cicatrizam por fora.
Há dias, me perguntaram qual foi a dor mais forte que eu consegui suportar.
Fiquei em silêncio, não porque não soubesse.
Mas porque certas dores são como quedas que a gente esconde por vergonha.
Doeu tanto que nem sempre tenho coragem de lembrar, muito menos de falar.
Pensei nas dores físicas.
Já senti.
Corpo moído, noites sem dormir, fome sem apetite, dor que sobe pelo peito como uma corrente elétrica.
Mas nenhuma dessas me deixou tão marcada quanto a dor que veio de dentro.
A dor que ninguém viu.
Aquela que você segue respirando por puro instinto, mas já não sente que está viva.
Doeu quando não podia confiar em ninguém.
Doeu crescer sem o amparo emocional que toda criança merecia.
Doeu me tornar mulher com os traumas de menina ainda doendo no corpo e na alma.
Mas o que mais doeu foi o que ninguém viu.
Foi o que ninguém segurou.
Foi o que ninguém perguntou.
Sobrevivi a abusos que me tiraram o chão,
A perdas que me roubaram a fé,
A dias que comecei no automático e terminei em prantos.
Já precisei ser forte quando tudo que eu queria era colo.
Já me calei pra não causar incômodo.
Já chorei trancada no banheiro pra depois sair e fingir que tava tudo bem.
Teve um tempo em que minha força era só sobrevivência.
Hoje, eu transformo essa dor.
Escrevo, falo, grito em silêncio quando preciso, mas não escondo mais de mim.
Não espero que me entendam — espero que respeitem.
Porque ser quem eu sou custou caro.
E eu paguei com a alma em pedaços, mas paguei.
Ainda sinto. Ainda carrego as marcas.
Mas sigo viva.
Mais inteira do que ontem.
Mais minha.
Mais consciente de que viver não é sorrir o tempo todo,
Mas não se perder completamente quando o mundo desaba.
E sim, sobrevivi.
Porque como disse Carlos C.,
“algumas dores não são feitas para serem esquecidas, mas para serem transformadas.”
E talvez, esse seja o meu milagre:
Transformar o que me feriu em força,
E seguir… mesmo ferida.
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Texto adaptado e inspirado no original de Carlos C.
Que escreveu o que tanta gente sente, mas não sabe dizer.

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