Ela aprendeu cedo a se fazer abrigo. Enquanto outros buscavam consolo, ela se tornava chão. Era o tipo de mulher que se reerguia em silêncio, com os próprios braços, e ainda estendia a mão pra quem precisasse. Não porque quisesse provar algo, mas porque sabia que esperar já a fez perder tempo demais.
Carregava no olhar a firmeza de quem já foi desacreditada, mas nunca se perdeu de si. Tinha dias em que o peito pesava mais do que os ombros aguentavam, mas ainda assim, ela ia. E ia inteira. Sem metade, sem desculpas, sem maquiagem emocional.
Não romantizava a própria força. Apenas não via outra opção além de seguir. Tinha em si uma coleção de feridas bem cuidadas — cicatrizes que não viraram bandeira, mas memória. Doía às vezes, claro. Mas era uma dor conhecida, mansa, que lembrava a ela quem é.
Ela nunca pediu colo. Não por orgulho. É que aprendeu, entre tropeços e silêncios, que colo demais pode embriagar, pode atrasar. E ela sempre teve pressa de viver — mesmo quando tudo doía.
Não vivia com armadura, mas com estrutura. Era sensível, mas não frágil. Sabia ouvir, sabia calar, sabia cortar laços sem culpa quando o coração deixava de caber ali. E por mais que, às vezes, sentisse falta de um ombro, ela seguia. Porque o mundo nunca parou pra perguntar se ela estava bem — então ela parou de esperar.
Hoje, depois de tanto atravessar, ela encontrou o que nem sabia que procurava: paz. Não uma paz ensaiada, não uma calmaria superficial, mas aquela que vem depois da tempestade, quando tudo desacelera e o silêncio já não ameaça — conforta.
Mas a mente, acostumada ao caos, ainda não entende. Ainda vasculha o horizonte como quem espera a próxima dor. Porque quem sobrevive por tanto tempo em estado de alerta não desliga do dia pra noite. Mesmo em tempos bons, ela anda com cautela. E não é medo — é memória.
Ainda que esteja tudo bem, ela não se entrega ao conforto. Não porque não queira, mas porque aprendeu a seguir mesmo sem chão. E talvez seja por isso que continue firme: não porque precise lutar sempre, mas porque já não sabe viver de outro jeito. A paz chegou. Só que ela ainda precisa ensinar a própria alma a descansar.
E esse texto é sobre mim. O blog, na verdade, se tornou uma extensão do que não cabe mais em silêncio — uma espécie de desabafo que sangra bonito. E a você, que talvez se reconheça aqui… a quem, sem querer, magoei com meu jeito bruto de me apegar rápido e ir embora ainda mais depressa: não te devo desculpas. Retiro as que pedi. Você teve o melhor de mim por um tempo. Ao invés de me culpar por ter partido, talvez devesse agradecer por ter se sentido vivo.
Foi só isso que eu deixei: um motivo, uma lembrança boa, um suspiro fora do roteiro. Nada mais. Ninguém nunca me mereceu por completo — nem por tempo demais. Desfrutem da memória que essa jovem senhora teve a generosidade de oferecer. Porque mesmo quando ninguém me abraçou inteira… dentro de mim, eu apreciei por completo a intensidade.

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