Sentir falta de alguém não é o mesmo que estar pronto para acompanhá-lo
Ela era o tipo de mulher que não se vê todo dia. Bem arrumada, tranquila, segura. Não fazia alarde, não pedia atenção, não dramatizava. E ainda assim — ou talvez por isso — era impossível ignorá-la.
Quando ele apareceu, parecia encantado. Gostava de sair com ela, gostava de mostrar pros amigos. Tinha orgulho do que via ao lado. A beleza, a presença, a postura. Usava tudo isso como vitrine, como se ela fosse troféu, medalha, símbolo de alguma vitória pessoal.
Mas ali dentro… ele tremia.
Era o tipo de homem que queria sentir que comandava tudo — inclusive a liberdade dela. Se incomodava com as amizades, com os lugares, com as possibilidades que ela carregava.
Tinha medo. Medo de assumir. Medo de se entregar. Medo de levar um “chifre” e sair perdendo num jogo que só existia na cabeça dele.
Ela, por outro lado, não cobrava. Não sufocava. Não exigia nada.
Não queria uma prisão com nome de relacionamento. Só queria ser ela, sem precisar apagar metade da luz pra alguém conseguir ficar.
E um dia, depois de ela sair e beber mais do que devia, ele terminou. Rápido, seco, como se estivesse buscando uma justificativa pra fugir.
Logo depois, apareceu com outro relacionamento. Tatuagem nova, assumiu publicamente, como quem precisava provar algo — não pra ela, mas pra ele mesmo.
Ela não tentou voltar. Seguiu sua vida, inteira, sem pressa. Não tinha vocação pra amante. Nunca teve. E ele? Voltou a procurar.
Disfarçou a intenção com convites casuais, conversas leves, tentativas de aproximação — como se o tempo não tivesse passado, como se ainda estivessem no mesmo lugar.
Mas não estavam.
Ela havia seguido. Já estava com outra pessoa. Alguém que não a tratava como troféu, mas como presença. Alguém que não queria esconder, limitar ou controlar — só dividir a paz e somar.
E quando ele a viu com esse outro, o orgulho dele cedeu. Foi só então que se resolveu e foi atrás novamente, porém Tarde demais.
Ele voltou achando que ela ainda estava no mesmo degrau. Mas não estava nem na mesma escada.
Achou que ela esperava no quarto onde ele tentou trancá-la — e descobriu que ela já tinha aberto todas as janelas, trocado a chave, saído pela porta da frente e ido embora com leveza.
No fim, ele descobriu o que ela já sabia:
Que quem tenta controlar o que não entende, acaba perdendo o que nunca teve estrutura pra manter.

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