Tudo começou com palavras.
Não promessas formais, mas aquelas insinuações que, mesmo leves, carregam a expectativa de algo mais. Ele falava com doçura, demonstrava interesse, se mostrava disposto. E ela, por mais que estivesse cética, decidiu observar.
Não estava emocionalmente ligada a algo vago, mas também não se negava à possibilidade de viver algo bom — desde que fosse real.
Deu tempo. Se permitiu. Abriu espaço pra ver se aquilo criaria raízes.
Mas não criou.
Ele era mais velho que ela, mas emocionalmente parecia ainda em fase de construção. Havia nele uma fragilidade escondida por trás das tentativas de agradar. Um medo silencioso de perder o que, na verdade, ele nunca chegou a conquistar.
A cada dia, ela percebia mais: ele queria estar com alguém, mas não sabia sustentar esse desejo.
Talvez não soubesse nem sustentar a si mesmo.
Porque quem não se sente inteiro sozinho, dificilmente consegue sustentar o sentimento de alguém.
E ela sabia disso. Sabia que depender emocionalmente de outra pessoa pra sentir alguma felicidade é o primeiro passo pra transformar o afeto em fardo.
Teve um momento decisivo.
Ela não estava bem. Em vez de acolhimento, encontrou distanciamento. Ele não foi capaz de enxergar além da própria frustração. Estava mais preocupado com o que aquilo representava pra ele do que com o que ela estava sentindo.
E foi aí que tudo ficou claro.
Não havia espaço pra amadurecimento conjunto ali. Só o desejo de construir uma relação em cima de alicerces frágeis: carência, medo de perder, expectativa de validação.
Ela não ficou.
Foi embora com a mesma calma que entrou. Não dramatizou, não se vingou, não culpou. Apenas saiu — com a lucidez de quem sabe que gentileza não é desculpa pra imaturidade, e que amar alguém é diferente de ter que ensiná-lo a amar.
Porque ela não quer mais moldar ninguém.
Ela quer encontrar alguém que já tenha se formado por inteiro.
Alguém que, como ela, saiba viver — e não apenas se apoiar.

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