Esses crimes silenciosos, porém cruéis, fazem vítimas que quase nunca têm voz: crianças, adolescentes e idosos.
Na infância, o crime mora na negligência disfarçada de normalidade. Meninas de 11 anos sendo tratadas como mulher por homens que “só tão brincando”. Meninos empurrados pro trabalho pesado, como se carregar saco de cimento fosse batismo de gente forte. Crianças crescendo rápido demais, sem infância, sem proteção, sem denúncia.
Na adolescência, o crime se infiltra na escola que fecha, na ausência de políticas públicas, na sexualização precoce e no abuso velado — aquele que o tio faz, o padrasto nega, e a mãe prefere não saber. Adolescentes engolindo o choro, aprendendo a sobreviver calados, porque "quem manda muito apanha", e porque "ninguém vai acreditar mesmo".
E quando chega a velhice, o crime ganha a forma de abandono. De uma aposentadoria usada por quem não trabalhou. De remédio que falta, de agressão dentro de casa, de solidão que ninguém nota. Idosos tratados como peso, esquecidos em redes vazias enquanto os filhos “vão resolver a vida” na cidade grande.
A pior parte desses crimes não é só que eles acontecem — é que eles são permitidos. O silêncio coletivo protege os agressores. A vergonha cala as vítimas. E o medo de “mexer com gente de nome” paralisa qualquer tentativa de justiça.
Mas justiça não deveria ser um favor. Justiça é o mínimo.
É hora de falar desses crimes com o nome que eles têm. É hora de proteger os pequenos — não com promessas, mas com ação. É hora de cuidar dos velhos — não com pena, mas com dignidade.
Porque numa cidade pequena, a dor também ecoa grande. E não existe futuro se a infância é ferida, se a juventude é silenciada e se a velhice é descartada.
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